domingo, 8 de março de 2009

Drogas lícitas e ilícitas

Drogas é um daqueles assuntos sobre os quais todos têm uma opinião, e muitas vezes esta opinião está apoiada apenas em preconceitos e informações duvidosas. Portanto, falar sobre um tema como este exige, antes de mais nada, explicitar muito bem sobre o que estamos falando: drogas são substâncias utilizadas para produzir alterações, mudanças — nas sensações, no grau de consciência e no estado emocional.
Vistas desta forma ampla, muitas das substâncias que utilizamos diariamente podem ser rigorosamente entendidas como drogas. O café, para usar um exemplo simples, tendo a cafeína como princípio ativo, estimula a atividade física e mental. Usamos o café em nosso dia-a-dia, muitas vezes de forma exagerada, sem nos darmos conta de que se trata de uma droga relativamente potente.
O exemplo acima serve para ilustrar como é difícil o entendimento correto do que sejam drogas e alertar para as armadilhas de um preconceito, que reduz o entendimento a certo grupo de drogas, chamadas de drogas ilícitas (ilegais). O debate sobre drogas, principalmente entre o público jovem, necessariamente tem que partir de uma postura despida de preconceitos.
As drogas são conhecidas e utilizadas pelo homem desde tempos imemoriais, seja na forma de substâncias utilizadas em cultos religiosos, seja como instrumento de prazer. Não se conhece nenhuma sociedade na qual não exista a utilização de drogas de uma forma ou de outra. A utilização destas drogas vai variar de época para época e de cultura para cultura. O álcool, tão largamente usado entre nós, é banido como substância perniciosa na cultura muçulmana, onde seu uso é violentamente reprimido.
As dificuldades na discussão sobre o uso de drogas, sejam lícitas ou ilícitas, estão em buscarmos a compreensão de onde está o limite que torna uma droga utilizada como fonte de prazer em um problema para seu usuário, sua família e a comunidade. Este limite reside na relação que o usuário estabelece com a droga: uma relação de uso eventual ou uma relação de dependência.
Exemplifiquemos com o álcool. Aquela cervejinha gelada em uma tarde de calor, tão agradável, pode, em determinadas circunstâncias e para determinadas pessoas, se transformar numa obsessão, dentro de uma relação de dependência que, no limite, deixará de respeitar as convenções sociais, o trabalho, a família e a própria auto-estima do usuário. Assim, qual será a grande diferença entre o consumidor eventual de álcool e o compulsivo? A diferença está na quantidade, na freqüência e, principalmente, na incapacidade de este último controlar o desejo pela bebida.
O álcool, apesar de ser uma droga lícita (e o exemplo com este tipo de droga foi proposital), não difere substancialmente de outras drogas ilícitas na formação da dependência. É a dependência entre o usuário e qualquer tipo de droga (tabaco, álcool, maconha, cocaína, anfetaminas etc.) que deve ser o centro de qualquer debate sobre o assunto.
Apesar das diversas drogas provocarem diferentes efeitos, danos físicos e psicológicos em maior ou menor grau, apresentarem síndrome de abstinência mais ou menos severa, é o usuário que deve ser focado. O prazer eventual proporcionado pela droga pode se tornar uma dependência para alguns e não para outros.
O que está em discussão
Segundo a Organização Mundial de Saúde, os usuários de drogas podem ser classificados em quatro categorias:
· não usuário: nunca usou droga;
· usuário leve: utilizou drogas no último mês, mas o consumo foi menor que uma vez por semana;
· usuário moderado: utilizou drogas semanalmente, mas não todos os dias no ultimo mês;
· usuário pesado: utilizou drogas diariamente durante o último mês.
A OMS considera, também, que apenas a freqüência e a quantidade de droga consumida não é o suficiente para se caracterizar o abuso ou a dependência de drogas. Outros fatores devem ser considerados, como a compulsão ao uso de drogas; a dificuldade em controlar o uso; a tolerância a doses crescentes; a perda de critérios quanto ao uso em locais inconvenientes, entre outros fatores.
As estatísticas evidenciam que apenas pequena parte dos jovens usuários eventuais ou leves passam a usuários pesados e dependentes de drogas. No entanto, não é possível determinar qual usuário eventual ou leve poderá tornar-se um dependente.
A prevenção deve ter cuidado em não apresentar uma face repressiva, pois esta afasta o jovem, tornando-o estigmatizado na família, no grupo ou escola, baixa sua auto-estima e terá o efeito contrário ao desejado. Assim, dois elementos devem se somar dentro de uma ação preventiva: informação de qualidade e sem preconceitos mais atividades prazerosas e criativas, como a prática de esportes e artes nas suas diversas expressões.
A oferta dos conhecimentos sobre os perigos do uso de drogas e uma vida sadia e prazerosa são os elementos principais para garantir a redução dos problemas causados pelas drogas a níveis mínimos em uma comunidade, numa escola ou mesmo numa família.

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